📝 ensaios e entrevistas
r.i.p Michael Snow (1928 – 2023)
Faleceu na última quinta-feira (05/12) o artista canadense Michael Snow. Para além de pintor, músico, fotógrafo e escultor, Snow foi um dos mais influentes cineastas experimentais da história do cinema. O diretor foi responsável em parte pelo estopim do movimento “cinema estruturalista”, tendo dirigido filmes como Wavelength (1967), Back and Forth (1969) e La Région Centrale (1971), o primeiro destes sendo reconhecido por historiadores do cinema como o mais importante filme vanguardista já feito.
Como de costume, compilei abaixo um dossiê de links sobre o diretor para qualquer pessoa já fascinada por sua filmografia ou que tenha interesse em conhecer seu legado artístico:
The Collected Writings of Michael Snow, por Michael Snow [pdf].
Vídeo-entrevista com o diretor para a rede britânica Channel 4, 1983 [vídeo].
Dois ensaios seminais, e uma conversa com Snow, pela crítica Annette Michelson:
O cinema de Michael Snow, ensaio por Carlos Carrilho para À Pala de Walsh, 2019 [artigo].
The “Presents” of Michael Snow, entrevista e ensaio pelo crítico Jonathan Rosenbaum, 1981 [artigo].
Relato de uma exibição de La Région Centrale (1971) organizada por Chantal Akerman na Light Industry, 2012 [artigo].
Turnê virtual da recente amostra Early Snow: Michael Snow 1947-1962, com exibições de obras feitas pelo artista nos seus anos formativos [vídeo].
Tudo o que sobrevive por inteiro de uma época é a sua forma de arte típica. Por exemplo: a pintura (em toda sua enormidade) chegou até nós intacta desde a Nova Idade da Pedra.
O cinema é certamente a arte típica de nossos tempos, qualquer que seja esse tempo. Se os Lumières são Lascaux, nós estamos, agora, no período primitivo da história do cinema. É uma época de invenção.
Um dentre pouco mais de uma dúzia de inventores vivos da arte cinematográfica hoje é Michael Snow. Seu trabalho já modificou nossa percepção do cinema passado. Visto ou não, ele afetará a produção e a compreensão do cinema no futuro.
Trata-se de uma situação extraordinária. É como saber o nome e o endereço do homem que esculpiu a Esfinge.
– Hollis Frampton no catálogo da Film-Makers' Cooperative, 1971.
restauração fílmica – o polêmico caso da correção de cor
Já fazem 2 anos desde o lançamento da coleção The World of Wong Kar-Wai, um box Blu-ray com 7 filmes do celebrado diretor chinês. As obras presentes na coleção passaram por um processo de restauração supervisionado pelo próprio Wong, na qual drásticas alterações foram feitas, como a alteração da gradação de cores e da própria proporção de tela dos filmes. Estas alterações não foram bem vistas por alguns fãs, e o cineasta lançou uma nota se explicando, alegando que a maioria das modificações foi parte de um “desejo de corrigi-los o mais próximo possível da minha visão original”.
Essa história não é nova. Imagino que, ao ler o parágrafo acima, muitos se recordarão do clássico caso de George Lucas com a trilogia original de Star Wars. Alguns lembrarão até da recente restauração de Fogo contra Fogo (1995), supervisionada por Michael Mann, que reflete a mesma situação de Wong. No excelente artigo Film Restoration Today, Robert Drucker fala que: “a restauração fílmica é tanto arte quanto ciência”. Não acho que vem ao caso debater se são “corretas”, ou não, as modificações feitas por estes diretores a seus filmes, anos após seus respectivos lançamentos, mas é definitivamente algo interessante a se refletir.
Algumas semanas atrás, o diretor Bingham Bryant publicou o excelente artigo Seeing Eye to Eye: Color Correction Styles Across Today’s Film Restorations, que fala sobre o polêmico uso da correção de cores no processo de restauração de filmes antigos. Bryant explora como aspectos visuais de um filme podem mudar drasticamente ao longo dos anos e o porquê disso ser tão importante, para além da fidelidade histórica de uma obra.
Ainda no tópico sobre restauração, gostaria de ressaltar o trabalho sublime que a organização Cinelimite tem feito nos últimos meses, digitalizando obras do cinema nacional como A Entrevista (1966), A Rainha Diaba (1974), Santo e Jesus, Metalúrgicos (1984), entre tantas outras.
entrevistas da semana
Pedro Costa, Expresso: Numa breve conversa, Costa fala sobre sua recente exposição, Canción de Pedro Costa, o atual estado do cinema português, a pirataria dos seus filmes, e o que pretende fazer após seu mais recente Vitalina Varela (2019): “Não sei. Só sei que os filmes deviam testemunhar sempre da razão da sua existência e da sua necessidade”.
Helga Fanderl, Sabzian: A diretora experimental descreve seus anos formativos como amante da literatura, explica o porquê de sua filmografia consistir quase que exclusivamente de filmes feitos com câmeras super 8, e comenta as aulas que teve com seu professor de cinema, o cineasta Peter Kubelka.
John Carpenter, Variety: O mestre do cinema de terror é mais uma vez inquirido sobre seu passado como diretor, fala sobre seu apreço pelos filmes de Howard Hawks, e responde se tem planos para dirigir um novo filme: “Estou aberto a tudo. Numa boa, eu não me importaria”.
Nicolas Winding Refn, Vulture: Papo com o diretor de Drive (2011) sobre seu novo seriado produzido pela Netflix, Copenhagen Cowboy.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
the animation showcase (gratuito): Carlos Segundo
A Animation Showcase disponibilizou nessa terça-feira (10/01) o filme Sideral, de Carlos Segundo. O curta-metragem, além de indicado ao Palma de Ouro no último Festival de Cannes, também é atual pré-indicado ao Oscar na categoria de Melhor Curta-Metragem em Live Action, como comentado na Recortes da semana passada.
Sinopse: No norte do Brasil, o país se prepara para lançar seu primeiro foguete espacial tripulado no espaço. Um casal vive perto do centro espacial, ela é uma faxineira e ele é um mecânico, mas ela sonha com outros horizontes.
Duração: 15 minutos. Disponível até a próxima terça-feira (16/01).
mubi ($): James Gray
A MUBI disponibilizou no último sábado (07/12) o filme Os Donos da Noite, do diretor James Gray.
Sinopse: Em 1988, a polícia de Nova York declara guerra ao tráfico de drogas. Bobby Green tenta se manter em território neutro, mas gerencia uma boate frequentada por gângsters, e tanto seu irmão quanto seu pai trabalham na polícia.
Duração: x minutos. Disponível até final de janeiro.
🍿 links de interesse
👤 Ontem (12/01) marcou o aniversário de 80 anos do filme A Sombra de uma Dúvida (1943), de Alfred Hitchcock [trailer do filme].
🖼️ Uma das novas pinturas do cantor Bob Dylan teve como inspiração uma cena do filme Honkytonk Man (1982), de Clint Eastwood [imagem].
🎞️ Inspirado pelo recente influxo de filmes que celebram a história do cinema (Babylon, Os Fabelmans, e Império da Luz), o crítico Richard Brody publicou uma matéria listando outros 34 filmes que celebram o próprio ato da produção cinematográfica [artigo].
❓A Folha de São Paulo publicou uma tradução de um artigo da New York Times que debate o porquê da insistência de produções hollywoodianas não contratarem atores gordos para retratarem personagens gordos, preferindo o uso de “fat suits”, como nos recentes A Baleia e Elvis [artigo].
😵💫 Segundo a Hollywood Reporter, os bastidores de Megalopolis, novo projeto de Francis Ford Coppola, estão embarcados em caos. Coppola e o ator Adam Driver negam. Saberemos com exatidão futuramente, visto que o diretor Mike Figgis está documentando a produção do filme à la Heart of Darkness (1991) [artigo].
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A polêmica do wong kar waaaaai aaaaa