📝 ensaios e entrevistas
retrospectiva 2022, e o que esperar de 2023
Vamos aos fatos. 2022 já acabou. Todos os eventos mais relevantes desse final de ano já vieram: A Copa, o Hanukkah, a véspera de Natal, que já é amanhã, e o mais importante de todos, a estreia de Avatar: O Caminho da Água na semana passada. Então, vamos entrar em modo retrospectiva: O que rolou de bom no cinema esse ano?
Para começar, tivemos duas listas de melhores filmes do ano particularmente interessantes: o Top 20 da Film Comment e o a da Screen Slate. A princípio, as duas listas são bem similares e igualmente permeadas por “obviedades” (filmes de festival ou de diretores de renome). Ambas também possuem, comicamente, o mesmo top 3 de filmes, e na mesma ordem: 1. Crimes do Futuro, 2. EO e 3. Aftersun.
O que mais nos interessa nessas listas, de fato, é o conteúdo “extra”:
A Film Comment, em conjunto com a lista principal, publicou uma seleção dos 10 melhores filmes que não tiveram distribuição comercial, os 10 melhores curtas-metragem, assim como as 11 melhores restaurações de filmes (em película, Blu-ray, DVD ou qualquer outro formato) lançadas ao público neste ano.
Já a Screen Slate não requisitou aos votantes que listassem filmes desse ano, mas que pelo menos elencassem suas descobertas favoritas, ou seja, os melhores filmes (ou literalmente qualquer outra coisa) vistos pela primeira vez em 2022, independente da data de lançamento. Entre as listas mais interessantes, destaco:
O diretor João Pedro Rodrigues, que listou 14 filmes do Allan Dwan.
O diretor Béla Tarr, que não mandou uma lista de volta: “Não vejo um filme bom há anos, fora os de [Carlos] Reygadas, [Pedro] Costa e Apichatpong”.
A escritora Laura Wynne, que selecionou, dentre outras coisas, o episódio 6 da terceira temporada de Barry e a review de 6 horas de duração do Tim Rogers para o videogame Boku No Natsuyasumi.
Para além de listas de final de ano, a Variety convidou 20 diretores para falarem sobre um de seus filmes favoritos do ano. Entre eles, e suas respectivas seleções, tivemos Claire Denis sobre Aftersun, Guillermo Del Toro sobre Elvis, Lena Dunham sobre Ela Disse e Wes Anderson sobre Ruído Branco.
Por fim, o crítico Mark Asch redigiu o ensaio Cinema Is Dead and We’re All Its Ghosts para a revista Filmmaker, que faz um balanço sobre certos lançamentos desse ano, como eles se conectam ao “impulso arquivístico” do cinema doméstico, e como essa forma de arte têm se transformado frente ao avanço do cinema digital e do vínculo deste à produção exacerbada de conteúdo visual por redes como o Instagram, YouTube e TikTok.
E o que esperar de 2023? Bem, fora o encontro de gigantes do dia 20 de julho do próximo ano, quando a estreia conjunta de Barbie e Oppenheimer rolar, nós já temos como dar uma conferida na seleção de alguns dos principais festivais de cinema desse primeiro trimestre: a 45ª edição do Festival de Sundance, a 52ª do Festival de Rotterdam e uma parcial da 72ª edição do Festival de Berlim. Daí cabe a nossa torcida para ver se alguma coisa desses festivais vaza na Internet é selecionado para exibição na próxima Mostra de SP, no Festival do Rio ou no Olhar de Cinema de Curitiba.
state of cinema 2022: Wang Bing
Na edição anterior da Recortes, eu comentei que aconteceria nesse domingo (18/12) a quinta edição do State of Cinema, um evento anual conduzido pela revista digital Sabzian. O convidado de honra deste ano foi o cineasta chinês Wang Bing, responsável pelo aclamado A Oeste dos Trilhos (2002).
Wang fez um discurso sobre a atual dificuldade dos cineastas independentes na China de produzir novos filmes devido ao controle rigoroso do Estado sobre a produção cultural no país. O discurso completo está disponível no site da Sabzian, e eu publiquei uma tradução para português no Letterboxd. Para a exibição especial do evento, o diretor escolheu o recente Stonewalling (2022), colaboração do casal de diretores Huang Ji e Ryûji Otsuka.
Vale relembrar que, em 2019, a Sabzian publicou Filming a Land in Flux, um extenso dossiê sobre Wang Bing, que inclui seis ensaios e sete entrevistas com o cineasta.
entrevistas da semana
Francis Vogner dos Reis, Tribuna do Cinema: Em parte uma crítica sobre seu novo filme, A Máquina Infernal, este diálogo com o diretor Francis Vogner dos Reis e o crítico José Oliveira aborda um pouco do histórico recente da crítica e da cinefilia brasileira oriunda dos blogs e das revistas digitais, assim como uma breve reflexão sobre o atual estado do cinema nacional.
Park Chan-wook, Vulture: Uma extensa conversa com o realizador de Decisão de Partir, exibido a pouco no 24º Festival do Rio, onde ele fala sobre seu apreço por Hitchcock, sua relação com o cinema coreano, o uso do cinema como veículo político, entre outros assuntos.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
le cinèma club (gratuito): Robert Bresson
A Le Cinéma Club disponibilizou hoje o filme Quatro Noites de Um Sonhador (1971), do cineasta Robert Bresson. A obra é uma adaptação do conto Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski.
Sinopse: Em uma noite, caminhando pelas ruas de Paris, Jacques, um jovem pintor, depara-se com Marthe, uma mulher prestes a atentar contra sua própria vida por ter sido abandonada pelo namorado.
Duração: 87 minutos. Disponível até o começo de janeiro (06/12).
mubi ($): Bi Gan
A MUBI disponibilizou anteontem (21/12) o filme A Short Story (2022), do diretor chinês Bi Gan. A obra foi indicada ao Prêmio de Melhor Curta do Festival de Cannes deste ano.
Sinopse: Um conto de fadas mágico sobre um encontro entre um gato preto de capa de chuva e um espantalho e a misteriosa jornada que se segue.
Duração: 15 minutos. Disponível até final de janeiro.
🍿 links de interesse
🦈 Esse domingo (18/12) foi o aniversário de 76 anos do diretor Steven Spielberg [vídeo].
🍕 A vez que o Martin Scorsese levou sua mãe no Late Show with David Letterman para fazer uma pizza na mão [vídeo].
🚀 Há boatos de que a minissérie que o Tarantino está dirigindo para Netflix é uma nova produção da franquia Jornada nas Estrelas [artigo].
✝️ Após exibir Padre Pio no Vaticano, o diretor Abel Ferrara recebeu um convite para conhecer o Papa Francisco, encontro mirabolante que rolou essa semana [imagem].
🏔️ Em memória ao compositor Angelo Badalamenti, o músico Kinny Landrum relembra como as colaborações com o colega e a vez que ambos foram ameaçados de processo por um suposto plágio contido no tema de Laura Palmer, da série Twin Peaks [artigo].
🧑🍳 Após a inspeção dos mecanismos de um governo local em Prefeitura (2020), o tema do próximo documentário de Frederick Wiseman, A Family Business, será as atividades quotidianas do ‘Le Bois sans Feuilles’, o restaurante 3 estrelas Michelin da família Troisgros [imagem].
Obrigado por ler esta edição da Recortes de Película!
A Recortes tem como interesse fornecer para sempre seu conteúdo de forma gratuita. Se você aprecia o nosso trabalho, considere tornar-se um inscrito pago pelo Substack ou fazer uma contribuição individual.