📝 ensaios e entrevistas
votação da sight & sound - os melhores filmes de todos os tempos
Saiu ontem (1/12) a antecipadíssima enquete da Sight & Sound que lista os 100 melhores filmes de todos os tempos de acordo com uma enquete envolvendo milhares de cineastas, críticos e pesquisadores de cinema de todo o mundo.
A pesquisa é feita decenalmente, tendo sido publicada pela primeira vez no outubro de 1952. Na época, o filme Ladrões de Bicicleta (1948) foi o primeiro colocado, mas ele logo seria desbancado pelo clássico Cidadão Kane (1941) na segunda edição. O reinado do filme de Welles se manteria por meio século até ser destronado na edição de 2012, quando Um Corpo que Cai (1958), de Alfred Hitchcock, assumiu seu lugar. Ontem foi a vez do filme Jeanne Dielman (1975), da cineasta belga Chantal Akerman, conquistar a colocação. A crítica Laura Mulvey publicou um ensaio sobre o filme e o que sua vitória na votação representa.
Apesar do resultado coletivo da enquete demonstrar um bom panorama do que a cinefilia entende como o atual cânone do “Bom Cinema”, as listas individuais dos participantes sempre são muito mais interessantes, e é uma pena que esses dados só serão revelados pela revista S&S no próximo mês. Prometo atualizar vocês quando elas estiverem disponíveis. Dito isso, segue alguns dados interessantes que eu recolhi do resultado da enquete:
Apenas 11 dos 100 filmes foram realizados por mulheres. Aliás, é a primeira vez que qualquer filme dirigido por uma mulher chega ao Top 10 da enquete da S&S, e foram logo dois! Bom Trabalho (1999), de Claire Denis, veio em sétimo lugar.
As décadas mais representadas foram a dos anos 50 e 60, ambas com 20 filmes. Do ano 2000 para cá, apenas 10 filmes entraram. 6 de 2000 e 4 de 2010.
O filme (e não a novela) A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir, é o único filme que se mantém no Top 10 da lista desde sua primeira edição.
Os diretores com mais filmes citados (4) foram Hitchcock e Jean Luc-Godard.
Apenas 6 dos 100 filmes foram dirigidos por pessoas pretas.
Não tivemos um filme de origem latino-americana na lista.
Por fim, uma dica para os cariocas: Jeanne Dielman passará gratuitamente na Cinemateca do MAM em março do próximo ano.
a primeira edição da revista madonna
Saiu nessa quinta-feira (01/12) o primeiríssimo número da Revista Madonna, uma estreia bem promissora no meio atual das revistas digitais de cinema. A publicação foi editada por Letícia Weber Jarek, Luiz Fernando Coutinho, Miguel Haoni e Roberta Pedrosa.
Os conteúdos da publicação são diversos, se estendendo por mais de 120 páginas de material: um extenso dossiê sobre a estética female gothic no cinema, um ensaio sobre o diretor John M. Stahl, outro sobre a carreira da atriz Margherita Buy, críticas sobre lançamentos mais recentes do cinema, uma mesa redonda sobre o último filme de Maggie Gyllenhaal, A Filha Perdida, e duas crônicas por Raffaella Rosset e Felipe Cruz.
r.i.p Albert Pyun (1953 – 2022)
Faleceu no último sábado (26/11) o realizador Albert Pyun, ícone do cinema de ação de baixo orçamento dos anos 80 e 90. Pyun foi aprendiz do diretor Akira Kurosawa e chegou a trabalhar com o ator Jean-Claude Van Damme. Foi escanteado de maneira esnobe por críticos estadunidenses por parte de sua carreira, geralmente apelidado de “Ed Wood moderno”. Demanda-se um cinismo muito forte para não apreciar a inventividade de suas cenas de ação [trecho do filme Nemesis].
His Own Worst Nemesis: The Films of Albert Pyun, ensaio por Brandon Streussnig, 2022 [artigo].
Entrevistas com o diretor para o blog Money into Light, 2017.
20(+) anos de cinema digital
Lá pelo final do abril de 2002, o diretor George Lucas organizou um evento com alguns dos maiores nomes do cinema estadunidense, entre eles: Spielberg, Scorsese, Coppola, Michael Bay (e Mann), entre vários outros. O evento era uma tentativa, com ajuda do designer e diretor de arte Wilson J. Tang, que relatou o ocorrido num post do seu LinkedIn, de propôr um novo futuro estético para o cinema: o digital de alta definição. George foi, no mês seguinte, o responsável pelo lançamento do primeiro blockbuster inteiramente digital da história do cinema: Ataque dos Clones.
É claro que o desuso da película como proposta estética não foi uma invenção de Lucas. Já em 2000, os festivais de cinema internacionais eram bombardeados com filmes feitos inteiramente em digital. Enquanto a francesa Agnès Varda concorria ao prêmio principal de Cannes com Os catadores e eu, o português Pedro Costa levava a menção especial do júri de Locarno com No quarto da Vanda. Isso sem contar outros experimentos relevantes do mesmo ano realizados por Spike Lee (A Hora do Show), Jon Jost (6 Easy Pieces) e Nam Gee-woong (Teenage Hooker Becomes a Killing Machine).
Por ocasião desse aniversário, a revista Sight & Sound publicou um longo ensaio dissecando parte da história artística e comercial da transição para o digital no cinema, tanto no meio “de arte” quanto na esfera comercial. O artigo inclui relatos dos seus mais antigos adotadores, de Jia Zhangke (Prazeres Desconhecidos) à Miranda July (Eu, Você e Todos Nós).
entrevistas da semana
John Carpenter & Nicolas Cage, Document: Uma nova entrevista com o John Carpenter é sempre um grande evento no meio da cinefilia – respostas cruas, relatos sobre como ele tem evitado trabalhar, qual videogame ele está zerando no momento, etc. Mas dessa vez ele é acompanhado pelo igualmente excêntrico Nicolas Cage numa conversa inédita entre os dois. Leitura essencial!
Tsai Ming-liang, Hyperallergic: Em decorrência das recentes retrospectivas de sua filmografia no MoMA e no Centre Pompidou, o cineasta malaio sentou para falar um pouco sobre sua carreira. Aliás, ontem (01/12) foi o aniversário de 30 anos do lançamento de seu filme de estreia, Rebeldes do Deus Neon (1992).
S. S. Rajamouli, Roger Ebert.com: O realizador indiano do aclamado RRR fala sobre o sucesso internacional do filme e seu processo de filmagem.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
cinelimite (gratuito): Cláudio Kahns e Antônio Paulo Ferraz
A organização Cinelimite disponibilizou gratuitamente nesta semana o documentário Santos e Jesus, Metalúrgicos (1985), cortesia de uma nova digitalização 2K feita pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros.
Sinopse: No fim dos anos 70, durante as greves do movimento operário paulista, os metalúrgicos Nelson Pereira de Jesus e Santo Dias da Silva foram assassinados por denunciarem as condições de trabalho enfrentadas em suas respectivas fábricas. O documentário toma a figura dos dois como ponto de partida para revelar a repressão que se segue às suas tentativas de resistir.
Duração: 57 minutos. Disponível até terça-feira (06/12).
mubi ($): Robert Bresson
A MUBI disponibilizou ontem (01/12) o prestigiado Diário de um Pároco de Aldeia (1951), do cineasta Robert Bresson. Adaptação do livro homônimo de George Bernanos, a obra influenciou o trabalho de artistas como Ingrid Bergman, Paul Schrader e Luís Buñuel. De acordo com o diretor Hong Sang-soo, Diário foi o filme que lhe deu a vontade e esperança de um dia fazer um filme narrativo.
Sinopse: Um novo padre chega na aldeia rural francesa de Ambricourt para servir sua primeira paróquia. A congregação apática o rejeita imediatamente. Através de seu diário, o jovem relata uma crise de fé que ameaça afastá-lo da aldeia e de Deus.
Duração: 111 minutos. Disponível até o começo de janeiro.
🍿 links de interesse
📒 A redação da revista Cahiers du Cinèma publicou a lista dos seus dez filmes favoritos de 2022 [imagem].
🟦 O Amos J. Levin completou 6 anos como editor de vídeos para a MUBI e fez um fio no Twitter recapitulando alguns dos trailers, campanhas publicitárias e fancams (!) que ele fez para a plataforma [thread].
🇦🇷 Copa do Mundo, 2018: A vez que o Messi perdeu um pênalti contra a Islândia para o goleiro Hannes Þór Halldórsson, que jogava futebol como hobby enquanto era diretor de cinema em seu país de origem [artigo].
🕊️ O cineasta experimental Robert Beavers disponibilizou no seu site um compêndio com informações e fotografias de toda a sua filmografia, além de textos e anotações feitas pelo mesmo durante a produção de suas obras [website].
🔪 A crítica e pesquisadora Beatriz Saldanha vai organizar um curso online de seis aulas sobre o subgênero do cinema terror, ‘Slasher: a tradição imortal dos filmes de matança’ pelo MIS SP. Começa na segunda semana de janeiro, no dia 13 [curso].