📝 ensaios e entrevistas
r.i.p Jacques Rozier (1926 – 2023)
Faleceu no começo deste mês (02/06) o cineasta francês Jacques Rozier, um dos últimos sobreviventes da geração nouvelle vague1. Aprendiz de Jean Renoir, Jacques foi pouco cultuado fora (e dentro) de seu país mas amplamente reconhecido por seus contemporâneos, como seu colega Jean-Luc Godard, que o considerava “um dos grandes poetas [do cinema], tal qual Flaherty, Rouch, e Dovjenko”. Em vida só dirigiu cinco longas, dos quais se destacam Adieu, Philippine (1963), Du côté d'Orouët (1971) e Maine Ocean (1986).
Risk and Desire, obituário por David Hudson para a Criterion [artigo].
Adieu Rozier, obituário por Marcos Uzal para a Cahiers du Cinèma [artigo].
Jacques Rozier's Vacationscapes, ensaio por Patrick Preziosi para a Notebook, 2022 [artigo].
Jacques Rozier, um cineasta brasileiro, ensaio por João Lanari para a Contracampo, 2001 [artigo].
Conversa entre Jacques Rozier e o diretor Guillaume Brac sobre a produção do filme Maine Ocean (1986) [entrevista].
Comentários do diretor sobre a produção de seu primeiro filme, Adieu Philippine (1962), traduzidos por Ruy Gardnier [entrevista].
Extra: Uma cena de Maine Ocean (1986), penúltimo filme do diretor, onde os atores cantam a música “Meu Caro Amigo”, de Chico Buarque [vídeo].
senses of cinema – a pirataria como forma de distribuição e preservação do cinema
Assunto sério, irmão! Faleceu um dos grandes do clube... Pois é, para os que ainda não souberam da notícia, o RARBG, um dos maiores trackers de torrent da internet, anunciou o encerramento das suas atividades no final deste mês de maio, no dia 31. Dentre os mais utilizados portais da web para o acesso a filmes, o apagar das luzes do RARBG provocou uma lamentação generalizada pela cinefilia online.
Coincidentemente lançada um mês antes do fato, a revista digital Senses of Cinema dedicou o tema principal da sua 105ª edição para discutir a pirataria no cinema – uma série de artigos analisando o cenário geopolítico que induz as mais diversas práticas de pirataria pelo mundo, hoje quase integrais a cultura cinematográfica “alternativa”.
Dentre os artigos da pauta:
Beyond Fortresses: Um relato autobiográfico sobre as práticas de pirataria na China continental – a descoberta de filmes de difícil acesso devido à censura governamental e às restrições à importação de filmes estrangeiros e como essa cultura inspirou uma nova geração de cineclubismo e cineastas chineses.
Making a Case for ‘piratas’: Discussão e contextualização sobre o avanço da pirataria como formato de acesso a filmes “de arte” na América Latina, com ênfase especial ao mercado colombiano.
Videoteca di Classe: Análise histórica sobre o surgimento da plataforma de streaming italiana pirata Videoteca di Classe, que disponibiliza filmes de tendência socialista e comunista.
YouTube as the Pirate Archive: A história de como o YouTube se tornou uma plataforma crucial para a preservação e disseminação de filmes vietnamitas do período pós-guerra do Vietnã.
Sharing is Transgressing: Sobre a distribuição de filmes piratas na República Popular de Bangladesh durante a década de 1980 e seu impacto na cultura cinematográfica local.
entrevistas da semana
Billy Woodberry, Le Monde Diplomatique Brasil: Por ocasião de uma retrospectiva completa de sua filmografia no IMS Paulista, o diretor norte-americano visitou o Brasil e revelou ao Diplomatique o quanto o cinema brasileiro influencia seu trabalho.
Claire Denis, The Guardian: Numa breve conversa com a icônica diretora francesa, Claire fala sobre seu último filme, Stars at Noon (2022), revela planos para sua próxima produção e faz comentários sobre o movimento MeToo.
Pedro Costa, Berria e Notebook: Direto de Cannes após a exibição de seu novo curta-metragem Filhas do Fogo, o cineasta português fez duas entrevistas sobre a produção do curta e sua residência na escola de cinema Elías Querejeta.
Wang Bing, Film Comment: Também recém-saído de Cannes, o diretor chinês fala sobre o processo por trás da filmagem de seu novo filme, Youth (Spring).
Wes Anderson, Indiewire: Uma longa conversa sobre Asteroid City, novo filme do diretor que estreia 10 de agosto.
🤔 o que assistir nesse final de semana?
spcineplay (gratuito): Rogério Sganzerla
A Spcine Play disponibilizou gratuitamente o curta-metragem Brasil (1983), de Rogério Sganzerla. Aliás, a filmografia completa do diretor está disponível na plataforma, quase inteiramente restaurada e numa qualidade irretocável.
Sinopse: João Gilberto recebe Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia durante a gravação de seu álbum Brasil. Em outras imagens, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Grande Otelo, Eros Volúsia e o diretor Orson Welles curtem o carnaval do Rio.
Duração: 13 minutos. Disponível por tempo indeterminado.
mubi ($): Hong Sang-soo
A MUBI disponibilizou nesta terça-feira (13/06) o filme Conto de Cinema (2005), do sul-coreano Hong Sang-soo.
Sinopse: Um estudante suicida conhece uma jovem e inicia uma relação amorosa que caminha para possibilidades trágicas. Tongsu, um diretor fracassado, vê uma mulher e a reconhece como sendo a atriz do filme que ele acabara de assistir. Decide segui-la. Sem perceber, seus caminhos ecoam estranhamente aos passos do estudante suicida.
Duração: 89 minutos. Disponível até meados de julho.
🍿 links de interesse
🍃 A penúltima terça-feira (06/06) foi o aniversário de 61 anos do diretor Hirokazu Kore-eda! [tweet].
🎞️ Uma foto de mais de cem pessoas num parque ao ar livre assistindo filmes da cineasta experimental Maya Deren em película [tweet].
🌴 A última quinta-feira (09/06) marcou o aniversário de 20 anos do filme O Cheiro do Papaia Verde (1993), do cineasta vietnamita Trần Anh Hùng [trailer do filme].
🎭 Enquanto a greve dos roteiristas persiste, atores de Hollywood também discutem uma possível greve em busca de melhores salários e de proteção contra o uso não autorizado de suas imagens por meio da inteligência artificial [artigo].
🎏 O Festival Ecrã anunciou a seleção para a sua 7ª edição! As exibições presenciais rolam no final do mês, no dia 29/06. Para os pouco afortunados não-moradores do Rio de Janeiro, também haverá exibições online a partir do dia 06/07 [site].
🍀 Segundo informação da produtora CG Cinema, o diretor Leos Carax já finalizou as gravações de seu novo filme, C’est pas moi, um "autorretrato" no qual o diretor de Annette (2021) e Holy Motors (2012) revisitará temas de sua filmografia. O longa deve sair no próximo ano [artigo].
🇨🇳 O novo filme do chinês Jia Zhang-ke, responsável por Ash Is Purest White (2018), também já está por vir. Segundo informação da Variety, We Shall Be All está sendo produzido pelo cineasta há cerca de 22 anos. As primeiras imagens do longa foram gravadas no ano de 2001 [artigo].
🏛️ Após anos de abandono pelo governo, a Cinemateca Brasileira enfim prepara um projeto de modernização e revitalização de sua instituição. Estimada em cerca de R$ 80 milhões, o projeto tem como intuito fortalecer a infraestrutura do espaço, assim como a melhoria da área de preservação do acervo [artigo].
🇮🇹 O ex-premiê e magnata italiano Silvio Berlusconi morreu nessa segunda-feira (12/06). Você sabia que ele foi o produtor do filme King of New York (1990), de Abel Ferrara? Ele também foi responsável pela censura de uma cena do filme Tenebrae (1982), de Dario Argento, que perdurou décadas [tweet 1|tweet 2].
🏡 Morreu também na última semana (10/06) o ativista eco-terrorista Ted Kaczynski, popularmente conhecido como Unabomber. O diretor norte-americano James Benning chegou a dirigir um filme chamado Two Cabins (2011)2 no qual ele construiu uma réplica da cabine de Ted. O média-metragem está disponível no YouTube [vídeo].
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Notei em alguns portais noticiando o falecimento de Jacques que ele seria o último sobrevivente da geração nouvelle vague, mas este título é guardado pelo crítico e cineasta francês Luc Moullet. Ele inclusive fez um filme sobre a possibilidade do caso: Le Prestige de la mort (2007).
Agradeço, aliás, minha amiga Liz Oliveira por ter me lembrado da existência desse filme na hora de finalizar a edição.